Olá!! Aqui é
o engenheiro tecidual. Nesta semana vamos viajar no túnel do tempo.
Vamos ver que, embora os grandes avanços na engenharia de tecidos
sejam modernos, os conceitos por de trás dessa ciência vem de
longas datas, inclusive da mitologia. Veremos que a na história das
culturas humanas existe uma preocupação com o bem-estar e a
imortalização do corpo ou pelo menos a desaceleração dos
processos que levam a um dano nos órgãos ou tecidos. E nada como
uma boa ficção científica para aguçar a nossa mente!
O conceito de
totipotência, ou seja, a capacidade de uma célula de originar todos
os tecidos do organismo, uma das características do zigoto, já era
conhecido no mito hindu de Raktabeej (Rakta= sangue; beej= semente)
onde seres mitológicos geravam seus clones a partir de gotas de
sangue. Ainda na mitologia, as noções de regeneração tecidual já
deviam ser conhecidas por Zeus, que castigou Prometeu por ter roubado
o fogo do Olimpo a ser acorrentado ao monte Cáucaso e ter seu fígado
devorado por uma águia todos os dias. O fígado, com a capacidade de
regenerar, era formado novamente, aumentando o castigo e o sofrimento
de Prometeu. Um biorreator, ou seja, uma máquina capaz de fazer
crescer células e tecidos fora do corpo humano, já havia sido
planejada em outro mito hindu, o Maabárata. A história diz que a
mãe de Kaurava, depois de 2 anos de gravidez gerou uma massa de
carne, a qual repartiu em 100 partes. Essas partes foram cultivadas
em espécies de biorreatores contendo ervas e manteiga, da onde, após
mais 2 anos, surgiram os irmãos de Kaurava.
Voltando a
realidade, o uso de suturas e linhas, para fechamento de feridas é
conhecido desde 10 mil antes de Cristo, como o linho com os egípcios
e cabeças de formigas na África do Sul e Índia. Susruta, o pai da
cirurgia, já fazia implantes de pele em 2500 antes de Cristo. O
Papiro de Ebers, um tratado de medicina do Egito Antigo, datado de
1500 antes de Cristo, mostra que os egípcios usavam uma mistura de
fibra de algodão, que funcionaria como um biomaterial; graxa, uma
barreira para entrada de micro-organismos; e mel, que funcionaria
como um antibiótico, para curar feridas na pele. A primeira prótese
em humanos é de uma múmia egípcia de 1069 a 664 antes de Cristo,
com um dedão de madeira e couro. Os romanos usavam ferro como
biomaterial para ossos. O grego Galeno de Pérgamo usou fios de ouro
para sutura no século II. Os maias utilizavam madrepérola em 600
depois de Cristo, como um biomaterial em implantes dentários.
É claro que a descoberta das células-tronco e a combinação
destas com os biomateriais deram um salto quântico na engenharia
tecidual. As ideias do passado, a realidade do presente e as
projeções do futuro nos permite ao menos imaginar uma sala de
cirurgia que mais se pareça com uma oficina, onde tecidos e órgãos
sejam cultivados para substituir os doentes. E quem sabe assim nos
tornaremos como Wolverines da vida real, com uma capacidade ilimitada
de regeneração. É como se diz, sonhar não custa nada. Nos
próximos posts fique atento para o que já é realidade na
engenharia tecidual.
Até mais!! Um
abraço biologicamente engenheirado.
Para
saber mais: Kaul H, Ventikos Y. On the genealogy of tissue
engineering and regenerative medicine. Tissue Eng Part B Rev. 2015
Apr;21(2):203-17.
Múmia egípcia com uma prótese de madeira (acima). Fazenda de órgãos no laboratório de engenharia tecidual do futuro. |