terça-feira, 17 de maio de 2016

Depois das células-tronco de pluripotência induzida (iPS) vencedoras do Nobel, eis que surgem as iMS

Olá galera!! Um caso muito curioso vem trazendo novas perspectivas para reparo de tecidos através de indução de células-tronco multipotentes. Cientistas australianos vêm investigando o potencial de transformar células maduras do osso e do tecido adiposo em células-tronco adultas e, portanto, capazes de formar diversos outros tecidos. Só para lembrar, as células-tronco adultas não são capazes de se diferenciarem em todos os tecidos do corpo, o que compete somente as células-tronco embrionárias, mas sim em poucos tecidos específicos, dependendo do local de onde são retiradas. Por exemplo, as chamadas células-tronco hematopoéticas, encontradas na medula óssea, podem formar apenas células do sangue, mas não células da pele ou músculo. Por isso, são chamadas de multipotentes, e não pluripotentes, como as embrionárias. Lembra do nosso post sobre células-tronco

Talvez você também tenha ouvido falar das células-tronco de pluripotência induzida, as chamadas iPS, que renderam a pesquisadores japoneses e britânicos o prêmio Nobel de medicina em 2012O grande barato dessa pesquisa ganhadora do Nobel foi a capacidade de transformar uma célula que não é tronco, como uma célula da pele, em uma célula-tronco, quase que idêntica a uma célula-tronco embrionária. Em breve, discutiremos mais sobre as iPS aqui. Porém, um problema das mesmas é que, justamente por terem a capacidade de formar diversos tipos celulares, é preciso direcioná-las muito bem em laboratório qual destino elas terão. Por exemplo, ninguém quer implantar uma iPS no músculo, e ali se desenvolver um dente, cabelo etc (formando os temidos teratomas - "tumores monstruosos"). Foi então, que em fevereiro desse ano, foi publicado um artigo apresentando as células de multipotência induzida (iMS). Esta nova técnica fez com que células de gordura e osso pudessem ser transformadas em células-tronco multipotentes, ou seja, assim como as células-tronco adultas, isto é, ainda tronco, mas não passíveis de formar a imensa variedade de tecidos que as células-tronco embrionárias conseguem.

Isso foi possível, pois nossas células possuem” memória celular”. O que é isso? Você pode estar se perguntando:  A célula possui neurônios? Claro que não! Quando falamos em memória celular falamos que a célula mantém a programação genética para desempenhar uma determinada função. Todas as nossas células são originadas de uma única célula, o zigoto. Ao longo das divisões celulares o que ocorre é que as células filhas vão se especializando em uma determinada função adquirindo um perfil, uma memória celular. É como se as células tivessem interruptores que ligam ou desligam uma atividade específica nela. Por exemplo, uma célula de osso deve ser capaz de colocar cálcio nos ossos, uma célula de músculo deve ser capaz de contrair, e assim por diante. O que os cientistas fizeram foi deixar as células com os interruptores desligados podendo ser acionados de acordo com o local na qual essas células são inseridas, resultando em regeneração tecidual.

A grande vantagem das iMS é que elas se mostraram com capacidade de regeneração maior que as células-tronco adultas, contribuindo diretamente para a regeneração tecidual de ossos da lombar, assim como não formaram teratomas, como as células-tronco embrionárias e as iPS podem formar. Vale lembrar que esse estudo foi feito até agora em ratos e camundongos. Além disso, para promover essa reprogramação celular os cientistas usaram um composto conhecido como AZA (5-Azacytidine), já normalmente usado para tratar doenças sanguíneas, e uma molécula conhecida como PDGF-AB (fator de crescimento derivado de plaquetas-AB), muito utilizado para cultivar células-tronco em laboratório. Até então, a forma de se reprogramar as células, formando as iPS, é utilizando vírus que carregam genes para modificar essas células, o que também é ainda encarado com cautela por muitos médicos e cientistas. Ainda será necessário muito trabalho para se verificar se as iMS poderão ser utilizadas para tratar diversas doenças tais como osteoartrites, degeneração muscular, injúrias no disco espinal entre outros, além de, quem sabe, garantir algum grande prêmio aos cientistas australianos que as descobriram, assim como os cientistas japoneses e britânicos ganharam o Nobel pelas iPS.

Bom galera, esse foi mais um exemplo de como as técnicas de terapia celular tem colaborado para o desenvolvimento da engenharia tecidual e medicina regenerativa.

Um abraço biologicamente engenheirado!!

P.S.: veja esse vídeo do youtube, onde os próprios cientistas australianos explicam as células iMS. Infelizmente, por enquanto o vídeo apresenta apenas legendas em inglês =[ 

Esquema representando a técnica de desenvolvimento de células-tronco de multipotência induzida (iMS) pelos cientistas da University of New South Wales (UNSW) da Austrália. Primeiramente células de gordura são extraídas (1), tratadas com PDGF-AB e AZA (2), de forma que se modifiquem (3) e se tornem as iMS (4). Essas podem então ser cultivadas e possivelmente transplantadas (5) para regenerar tecidos.  Imagem adaptada do site theconversation.com