Olá galera!!
Desta vez vamos falar do tecido vascular. Vamos lá!
Todos já devem ter ouvido falar que as doenças
cardiovasculares são as que mais matam no mundo. São mais de 15 milhões de
mortes anuais de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Trata-se de um grave problema de saúde pública, pois
mesmo quando não fatal, os danos causados aos vasos sanguíneos provocam
diversas complicações e invalidez nos pacientes. Estima-se que os custos de
saúde nesses casos oscilam entre 50 a 150 bilhões de dólares anuais no mundo.
O tecido vascular tem como função básica distribuir
e/ou coletar: produtos do metabolismo celular (excretas,
radicais livres, gases), nutrientes, vitaminas, hormônios, fatores de
crescimento, células do sistema imune entre outras funções. Basicamente, ele
garante o trânsito desses elementos pelo corpo. Mas, os vasos sanguíneos não são
apenas como canos ou mangueiras. São tecidos vivos, formados por diversos tipos
celulares e que precisam ser dinâmicos. Por exemplo, as artérias precisam ter
grande elasticidade para não se romperem com a pressão sanguínea que vem do
coração. Ainda mais, os vasos sanguíneos podem dilatar ou contrair, no que é
conhecido como vasodilatação e vasoconstrição. Quando você faz muito exercício,
seu rosto fica vermelho porque seus vasos sanguíneos estão se dilatando. E
quando você toma aquele susto, você fica branco porque seus vasos estão
contraindo. Pra terminar, os vasos ainda tem que resistir a trombose (coágulo
sanguíneo) e fornecer um ambiente propício para ação do sistema imunológico.
Diversas doenças podem acometer os vasos sanguíneos. A
aterosclerose é o grande destaque e o famoso “entupimento” das artérias causado
por exemplo, por colesterol. Este quadro clínico resulta em um estreitamento no
tecido vascular, comprometendo o fluxo sanguíneo. Ao mesmo tempo, as chamadas
placas de ateroma, formadas por tecido fibroso e gordura, podem se romper, cair
na circulação, e bloquear o fluxo sanguíneo em artérias coronárias, provocando
o infarto ou ainda nas artérias cerebrais, provocando o AVC (acidente vascular
cerebral).
Como tratamento para tal problema, geralmente utiliza-se
transplante do próprio paciente, a ponte
de safena por exemplo. Porém, a quantidade de tecido que vai ser transplantado
é limitada, e acaba causando morbidade no local de onde foi retirado. Quanto a
doação de outros indivíduos, ocorre o mesmo problema de sempre, demanda
insuficiente e necessidade de compatibilidade entre o doador e o receptor.
Pensando nestes problemas adversos, a comunidade científica
internacional tem direcionado grandes recursos para pesquisas na área de
engenharia do tecido vascular. Dentre as diversas áreas de pesquisa, desta vez
vamos comentar de um grupo de pesquisadores da Boston University. Estes
pesquisadores confeccionaram em laboratório tubos de colágeno, simulando um
tecido vascular. Mas nem tudo são flores... Quando transplantado, o tecido
engenheirado precisa se integrar ao sistema vascular do paciente, de forma que
ao longo do tempo o biomaterial de colágeno seja reabsorvido e células do
paciente formem um novo vaso sanguíneo no local. Enquanto isso, o implante deve
resistir a pressão fisiológica evitando o aneurisma- dilatação anormal do vaso
sanguíneo; não deve ser trombogênico, ou seja, formar trombos e não deve provocar
reações imunológicas adversas no paciente colocando a sua vida em risco.
O “pulo do gato” do grupo de Boston, é que eles
desenvolveram uma técnica que permite produzir vaso com diâmetros pequenos, através
de uma moldura ajustável, conectando o tecido engenheirado aos vasos no
organismo. Além disso, o colágeno é uma substância naturalmente encontrada no
corpo e é compatível com as células permitindo sua adesão e crescimento. Veja na
imagem abaixo, o experimento inicial, onde os tubos sintetizados no laboratório
foram inseridos na artéria femoral de ratos com o objetivo de analisar a
resistência a pressão sanguínea e a
biocompatibilidade com o tecido vivo por 20 minutos. Os resultados foram muito
positivos! Os próximos passos envolverão cultivar estes tubos com células
endoteliais, que são as células que recobrem internamente os vasos sanguíneos. Mais
análises como a verificação do tempo de biodegradação do material na circulação
também serão necessárias.
Logicamente ainda temos muito que descobrir nesta área
fantástica. Ao mesmo tempo, que diversas outras estrategias estão sendo
investigadas ao redor do mundo com o intuito de construir vasos sanguíneos em
laboratório, como a descelularização de vasos sanguíneos de doadores para
evitar riscos de rejeição dos implantes e até mesmo impressão 3D.
Um abraço engenheirado!
Para saber mais sobre o trabalho de Boston, clique aqui.